10.25.2007

Longa de Cao Hamburger bate 'Tropa de elite'

'O ano em que meus pais saíram de férias' venceu o favorito 'Tropa de elite' ao ser escolhido como candidato nacional ao Oscar de melhor filme estrangeiro.
O anúncio foi feito pelo Ministério da Cultura, no Rio de Janeiro. Uma comissão formada pelos jornalistas Ana Paula Sousa e Pedro Butcher, os cineastas Hector Babenco e Bruno Barreto e os críticos Rubens Ewald Filho e Leon Cakoff elegeram o título entre 18 que concorriam à vaga.

“Independente de sermos escolhidos ou não pela Academia [para concorrer ao Oscar], é importante ter filmes de qualidade e com pegada diferente, é importante mostrar que o cinema brasileiro é bem feito e variado” - Cao Hamburger

“Estabeleceu-se um padrão de qualidade na Academia e O ano em que meus pais saíram de férias é o que mais se aproxima desse padrão entre os 18 filmes inscritos” - Rubens Ewald Filho.

“O júri é composto por veteranos da Academia, que entendem muito de cinema, mas que já pré-estabeleceram o que querem ver” - Leon Cakoff.

Também foi destacado o fato do longa já ter data de estréia marcada para dezembro nos Estados Unidos. “Isso dá um grande impulso ao filme. E agora, com a indicação, certamente haverá um esforço ainda maior para sua divulgação”, disse Orlando Senna.

O jornalista Pedro Butcher concordou, acrescentando que o filme tem “vocação internacional”. Hector Babenco, no entanto, fez questão de destacar que o principal critério foi a qualidade do filme. “Não especulamos tanto sobre o que o mercado quer ou não, porque somos homens de cinema. Analisamos um a um e vimos que O ano em que meus pais saíram de férias era o mais completo. Tinha que ser um filme que nos agradasse e tivesse perfil internacional”, afirmou o diretor.

Os jurados explicaram porque não selecionaram Tropa de Elite, que recebeu grande destaque da mídia, principalmente pela questão da pirataria, e era um dos favoritos. Segundo eles, o filme de José Padilha ficou entre os três finalistas, concorrendo também com O Céu de Suely, de Karim Aïnouz. “Tropa de Elite segue os padrões americanos, das séries policiais. Para os membros da Academia, denúncia de corrupção e violência não são novidade. Eles vão ver como mais um filme policial e o que eles procuram é algo diferente, não cópias”, afirmou Rubens Ewald, completando que o filme lembra o caso de Cidade de Deus, que abordava temática parecida e foi rejeitado pela Academia.

“Mas vamos torcer para que ‘Tropa’ consiga outras indicações, como Cidade de Deus, disse Leon Cakoff, referindo-se à indicação de melhor diretor para Fernando Meirelles em 2004. Tropa de Elite não poderá mais concorrer a melhor filme estrangeiro, já que foi lançado no Brasil em 2007 e apenas um filme de cada país é selecionado por ano. Se estrear ainda esse ano nos Estados Unidos, poderá concorrer em outras categorias no Oscar 2008. Mas, se estrear no ano que vem, essas indicações podem só ocorrer na premiação de 2009.

O ano em que meus pais saíram de férias é o segundo longa de Hamburguer e retrata um garoto que viaja com os pais de Minas Gerais para São Paulo. Eles dizem que vão tirar férias e, por isso, irão deixar Mauro (Michel Joelsas) na casa do avô (Paulo Autran, em participação especial) por um tempo. Mas o verdadeiro motivo da separação temporária é que os pais de Mauro estão sendo perseguidos pelo regime militar. A trama tem como pano de fundo a Copa do Mundo de 1970 e o tricampeonato da seleção brasileira de futebol.

Um filme brasileiro nunca recebeu o Oscar de melhor filme em língua estrangeira. O mais próximo que estivemos da estatueta foi na disputa de 97, quando o longa nacional era considerado favorito mas acabou surpreendido pela produção holandesa Character.

O ano em que meus pais saíram de férias tentará ser o quinto filme brasileiro a chegar na lista final de indicados ao Oscar de melhor filme estrangeiro – tradicionalmente composta por cinco produções. Os outros foram: O Pagador de Promessas (1962), O Quatrilho (1995), O que é isso, companheiro?(1997) e Central do Brasil (1998).

Os cinco finalistas da disputa serão anunciados no dia 22 de janeiro de 2008, cerca de um mês antes da cerimônia.

10.18.2007

Confira o trailer de "O Caçador de Pipas"

Falado em dari, uma das línguas do Afeganistão, com direção de Marc Foster (Em busca da terra do nunca) e roteiro de David Benioff, a versão para o cinema baseada no best-seller O Caçador de Pipas - The Kite Runner, de Khaled Hosseini, já está causando polêmica mesmo antes de sua estréia. Tudo isso se deve a uma cena de estupro na qual um dos atores-mirins é violentado. Em conseqüência disso, o lançamento do longa foi adiado em seis semanas, tempo suficiente para que o estúdio Paramount Vantage retire do Afeganistão as famílias dos seus garotos-astros , com a finalidade de protegê-los de possíveis represálias locais.

De acordo com o jornal The New York Times, a polêmica está no fato de que a cena mostra um garoto da etnia Hazara, sendo violentado por um adulto da etnia Pashtun - dominante no Afeganistão e que sustentou o regime talibã até a invasão do Exército norte-americano na busca por Osama bin Laden. A avaliação é que a seqüência poderá causar tensões entre os povos afegãos.

Khaled Hosseini retrata em seu livro a Cabul da década de 70, antes de ser invadida pelos soviéticos, até a chegada ao poder dos guerrilheiros talibãs. Tendo dois garotos como personagens principais da trama, "O Caçador de pipas" tornou-se um dos grandes best-sellers da atualidade.

A trama é dividida em três partes. Na primeira, ambientada no Afeganistão em 1978, mostra a amizade de dois meninos de 12 anos: Amir, que mora com seu pai, Baba, um rico e sofisticado viúvo, e Hassan, filho de um empregado de Baba. Devido a uma atração em comum por filmes de ação norte-americanos e pipas, os dois garotos acabam desenvolvendo uma forte ligação.

Mas quando Hassan é brutalmente violentado e agredido por um bando de valentões do bairro, Amir fica com medo e não consegue ajudar seu melhor amigo. Sua covardia o perseguirá ao longo dos anos, até mesmo depois que ele e seu pai são obrigados a fugir e seguem para os Estados Unidos, após a invasão soviética.

Passada uma década, o agora adulto Amir vira um aspirante a escritor e conhece Soraya Taheri, com quem se casa. Soraya se muda para a casa de Amir e cuida de Baba até ele morrer. Algum tempo depois Soraya descobre que não pode ter filhos e se recusa a adotar uma criança.

Na última parte, passada em 2000, Amir já é um autor bem-sucedido e feliz, mesmo depois da morte de seu pai e de não ter conseguido ter filhos. Porém sua tranqüilidade é interrompida depois que ele recebe um telefonema de um antigo amigo da família, que lhe conta que Hassan foi morto por um soldado e deixou um filho abandonado em um orfanato. Amir, então, vê no garoto a chance de corrigir os erros do passado e decide viajar à perigosa Cabul para resgatar o menino e trazê-lo para os EUA.

O diretor Marc Foster afirmou ao New York Times que avisou ao pai de um dos garotos que haveria uma cena de estupro na produção. O pai teria dito que "coisas ruins acontecem nos filmes como acontecem na vida".

A adaptação para as telonas de O Caçador de Pipas já tem data no Brasil, a Paramount irá lançar o filme aqui no feriado de 25 de dezembro.

COTAÇÃO: 9,0/10

10.12.2007

Teatro Mágico

Príncipes e Princesas (Princes et Princesses, 1999) Direção: Michel Ocelot Duração: 70 minutos Gênero: Infantil País de Produção: França O mais novo filme do francês Michel Ocelot, nos faz perceber como a simplicidade pode ser bela.

Fugindo da crescente explosão dos pixels advindos das mega-produções de estúdios americanos como os filmes Procurando Nemo, Os Incríveis e A Era do Gelo, eis que surge um dos mais belos desenhos animados da atualidade. Com um brilhante toque de inteligência e delicadeza, Príncipes e Princesas é uma obra que encanta crianças e adultos de todas as idades.

No filme, somos convidados a assistir a um teatro de sombras, no qual personagens e cenários são apenas delineados por uma luz que vem de trás. O longa nos é apresentado por Ocelot em um formato quase que metalingüístico no qual seis magníficas aventuras são encenadas num teatro mágico, todas representadas por dois atores e um diretor.

Auxiliados por um velho sábio, um garoto e uma garota se transformam em heróis e heroínas, viajando no tempo e no espaço, desde as belezas do Antigo Egito, a poesia da arte japonesa, o romance da Idade Média até o futuro no ano 3000. O que mais chama a atenção no filme é a maneira de como as historias são contadas, sempre começam como que numa brincadeira de faz de conta, em que as crianças imaginam o inicio da historia e se vestem como os personagens.

É interessante perceber que, em todo o filme, não existe uma divisão exata entre o bem e o mau, como na maioria das historias infantis. E as lições de moral são muito mais complexas do que as que estamos acostumados. Príncipes e Princesas é muito mais do que mais um simples filme de animação, sem piadas sem graça e sem personagens coloridos, a magnífica obra de Ocelot é um convite a reflexão sobre temas tão importantes no mundo em que vivemos, como o respeito à diferença e a solidariedade.

Avaliação: 8,5/10

Diretor do premiado filme de animação Kiriku e a Feiticeira (Kirikou), de 1998. Durante os últimos 25 anos, Michel Ocelot tem realizado numerosos desenhos animados. Ex-aluno da National Academy of Decorative Arts de Paris e do California Institute of the Arts, Ocelot atualmente preside a ASIFA (International Animated Film Association).

No vídeo logo abaixo podemos ter uma idéia de como o filme foi produzido. De cara já dá para perceber que não deve ter sido um trabalho fácil. No segundo vídeo – que é um trecho do filme - você pode conferir o resultado final.